O Silêncio de Lola nos Recantos de São Manoel do Rio Pomba

ANPUH – VI ENCONTRO DO GT NACIONAL DE HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E DAS RELIGIOSIDADES – Rio de Janeiro, 2016.

Frágua de amor: O silêncio de Lola nos recantos de São Manoel do Rio Pomba

Carlos Henrique Silva¹


Resumo: Um rio, uma cidade, uma mulher, um mistério espiritual: Floripes Dornellas de Jesus, conhecida como “Lola”, é acometida por uma paraplegia ainda quando jovem na década de 1930. Após algum tempo, passa a se alimentar unicamente de hóstia consagrada oferecida pelos sacerdotes e ministros da sua paróquia. Sua história de vida conduz ao renascimento espiritual da cidade de Rio Pomba, localizada na Zona da Mata mineira, uma vez que esta mesma cidade é fundada por um padre e tem suas origens na ação evangelizadora do catolicismo do século XVIII e XIX. O trabalho missionário de Lola, durante o século XX, fortalece a fé local com uma devoção incomparável ao Sagrado Coração de Jesus.

Palavras-chave: Catolicismo, mistério, silêncio, contemplação, Sagrado Coração de Jesus.

Abstract: A river, a city, a woman, a spiritual mystery: Floripes Dornellas de Jesus, known as “Lola”, was diagnosed as paraplegic when she was Young, in the 1930’s. After some time, she was only fed with consecrated host offered by priests and ministers of her Parish. Her life story leads to spiritual rebirth in the city of Rio Pomba, located at Minas Gerais’ Zona da Mata, once this same city was founded by a priest and has its origins in the evangelizing action of Catholicism of the 18th and 19th centuries. The missionary work of Lola, during the 20th century, strengthened the local faith with an incomparable devotion to the Sacred Heart of Jesus.

Keywords: Catholicism, mystery, silence, contemplation, Sacred Heart of Jesus.


Introdução
            Estudar a história local é relevante. É procurar através das fontes escritas, fatos históricos, fontes materiais não escritas ou imateriais os caminhos a trilhar até chegar às evidências. Não se trata de uma simples interpretação do pesquisador, mas uma tentativa de capturar nas narrativas do passado respostas para transmitir na forma mais fiel os traços e características herdadas para se explicar o presente e o futuro, e contribuir para que sejam diferentes e não um ciclo onde tudo se repete.
            Buscar numa manifestação religiosa particular a sua relação com o cotidiano e trazê-la à luz da historiografia se faz um grande desafio. O homem, autor e protagonista da história, ao longo dos tempos procurou uma resposta para a sua existência e de tudo o que lhe cerca tanto  no plano material quanto no plano espiritual.    Resposta esta que seja convincente para explicar os fenômenos
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1. Graduado em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Membro do NEPHIC/UERJ - Núcleo de
    Estudos e Pesquisas da História da Igreja Católica. E-mail: carloshenriquedoihgbi@bol.com.br.
e tudo o que transcende a sua existência e a leitura que ele faz da realidade.
            Realizar uma pesquisa apoiada na história do lugar e na vida de uma pessoa que ali se destaca, a fim de gerar um maior interesse da população pelo conhecimento em todos os níveis para dialogar com a história das suas origens, é valorizar a identidade e a memória local, o orgulho de pertencer na tentativa de uma possível aproximação entre a História como ciência e a comunidade.
            Então, por que não dialogar com um caso isolado dentro do cristianismo, suas representações coletivas reais ou construídas, a força que move a fé de um determinado grupo na “relação de identidades e de distinções simbólicas, com a finalidade de legitimar as suas próprias escolhas e condutas”2, e trazê-lo para o contexto histórico?
            Explorar a história do cristianismo sem ser tendencioso é muito complexo. É um desafio para o historiador em abdicar de suas concepções religiosas ou de um forte ateísmo e dar corpo à sua escrita. “Podemos conceber uma experiência religiosa que não deva nada à História. Porque o cristianismo [já o disse] é por essência uma religião histórica: quero dizer, uma religião cujos dogmas primordiais assentam em acontecimentos”3.
            Fazer uma associação entre a história local com a história particular de uma pessoa caracterizada por devoções singulares e invocações não é simples, porém, entre possíveis distinções pode haver pontos convergentes o que provavelmente pode tornar a pesquisa mais abrangente de acordo com as conexões entre um acontecimento e outro.  
            Este trabalho tem a intenção de buscar na origem do culto e devoção ao Sagrado Coração de Jesus em fins do século XII, e na história da cidade mineira de Rio Pomba desde sua fundação na segunda metade do século XVIII, o conhecimento da causa de Floripes Dornellas de Jesus, apelidada de “Lola”, para contextualizá-lo ao teor da investigação histórica como objeto de estudo no campo das Ciências Humanas e Religiosas, principalmente em História Social e Cultural, e das Religiões e Religiosidades.
            Acometida de uma queda em 1934 que lhe custou os movimentos dos membros inferiores (paraplegia), Lola após dois anos recusou consumir alimentos em forma sólida ou líquida e só ingeriu hóstia consagrada até o dia de sua morte em 1999.
            Não dormia, não comia, não bebia. Passava curiosamente por completa ausência de desassimilação. Numa vida reclusa de oração, silenciosa, contemplativa e de aconselhamentos, permanecia em constante adoração diante do Sacrário que havia no seu quarto, e mantinha uma devoção fervorosa ao Sagrado Coração de Jesus.
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2. CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Trad. Lisboa: Difel, 1990. p. 17.
3. BLOCH, Marc. Introdução à História: A História, os Homens e o Tempo.  Publicações Europa-América, 1998. p.92.
            Frágua de amor, fé abrasadora. Essa devoção vai lhe render um trabalho árduo e missionário em busca da salvação de muitas almas e uma fama incontestável. Seus restos mortais repousam e são venerados por fiéis e seguidores no cemitério municipal de Rio Pomba. 



Rio Pomba: Cidade do sonho e da poesia. Atenas da Zona da Mata. Cidade Sedução
                        “Pelos seus filhos ilustres e ilustrados que demos em elevado número, à política, ao                    ensino, comércio, artes, clero, justiça e demais classes e ramos sociais a Minas e ao                    Brasil”4.

            A história da ocupação da Zona da Mata está intimamente relacionada com esgotamento da região mineradora, pois “com a queda da produção aurífera em Minas Gerais, a partir da segunda metade do século XVIII, os governadores passaram a incentivar a ocupação do sertão do leste mineiro a fim de descobrir terras férteis para aumentar a produção de gêneros alimentícios, a extração de ouro e, consequentemente, incrementar a arrecadação de impostos devidos à metrópole”5.
             Situada às margens de um dos rios mais importantes do estado de Minas Gerais, que lhe garantiu o nome, Rio Pomba é uma cidade com características típicas do interior voltada à produção agropecuária. Pacata e hospitaleira segue em passos curtos rumo ao progresso e ao desenvolvimento. Possui uma relação de comércio fechado e uma economia bastante centralizada. Quanto ao clima, apresenta um inverno rigoroso e um calor intenso, com fortes chuvas entre os meses de setembro a março.
            Localizada a cerca de 250 km de distância da capital Belo Horizonte, 73 km de Juiz de Fora e 102 km de Mariana - sede da Arquidiocese da qual faz parte - é considerada pela história da sua fundação e de várias cidades ao entorno o “Berço da Civilização da Zona da Mata Mineira”. Sua população nativa tem orgulho de exaltá-la com os títulos de “Cidade do Sonho e da Poesia, Atenas da Zona da Mata e Cidade Sedução”.
            Sem qualquer atrativo turístico que se destaque, quer por parte natural ou arquitetônica, a cidade e sua paisagem bucólica têm um poder de encantar naturalmente seus visitantes, provavelmente pelo carisma oferecido por seus habitantes na grande maioria gente simples, educada, generosa e muito hospitaleira.
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4. O Imparcial. Edição Especial. Rio Pomba, 15/08/1981.
5. ALVES, Romilda Oliveira. A conquista e a expansão da fronteira: Zona da Mata Mineira (1808-50). In: Zona da Mata
              Mineira: fronteira, escravismo e riqueza.  Rio de  Janeiro: Apicuri, 2014. p. 14.
            Da ocupação definitiva da região até sua emancipação recebe os nomes de Aldeia de Pomba e
Peixe, Arraial do Pomba, Pomba e Rio Pomba, sucessivamente. O aniversário da cidade é festejado em 25 de agosto, dia da sua emancipação política em 1832 com as instalações solenes da Câmara e do Fórum.

As raízes do catolicismo em Rio Pomba
            A Freguesia do Mártir São Manoel do Rio Pomba e Peixe dos Índios Croatos e Cropós é criada em 16 de fevereiro de 1718 subordinada ao bispado do Rio de Janeiro. Em 1831 passa ao termo de Mariana.
            O mártir São Manoel, um santo de origem persa, conhecido em toda a Europa, especialmente em Portugal onde muitas famílias durante centenas de anos adotam esse nome, foi escolhido como padroeiro da freguesia e do novo aldeamento.
            Coincidência ou não, um padre com o nome de Manoel (Manoel de Jesus Maria) foi quem deu o pontapé inicial na colonização da região, assim como na fundação da cidade. Ora, essa relação com a fé e a devoção vai fazer com que a localidade tenha um forte vínculo espiritual e crie assim uma tradição cristã católica que vai atravessar os séculos precedentes.
            “A instalação do Poder Régio nessa região, iniciou-se em 1767, quando o padre Manoel de Jesus Maria lançou as bases de um grande aldeamento de índios e de um povoado que constitui hoje, a cidade de Rio Pomba, pacificando indígenas e estabelecendo um ambiente para a fundação de núcleos populacionais”6.
            Em 1767, padre Manoel, presbítero secular do Hábito de São Pedro, foi nomeado vigário colado e indicado para o cargo de diretor dos índios croatos, cropós (ou coropós), botocudos e puris. Recebe autorização para aldear e civilizar os sertões e as matas da região onde estava localizada a incipiente aldeia de Rio Pomba. No dia 25 de dezembro do mesmo ano celebra a primeira missa local.
            Em 1770 começa o projeto da construção da Igreja Matriz. Após um ano, ao se descobrir um erro, é feita uma petição do padre Manoel à diocese para poder autorizar o arquiteto Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho) a fazer acréscimos na planta original.
            A igreja procurou manter sua função em catequisar, converter e educar os indígenas. De início como fora um papel assumido pelos padres jesuítas, expulsos do Brasil durante o governo do Marquês de Pombal (1750-1777) caberia às outras ordens religiosas e ao clero secular cumprir essa missão.
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6. Idem.
            A relação entre os colonizadores e os indígenas foi tensa e conflituosa, apesar de que as crônicas da época falam que padre Manoel tinha uma relação pacífica com os indígenas. Além disso, a região era de difícil acesso, pois “além dos obstáculos oferecidos pela mata espessa e pelos despenhadeiros, existiam outros perigos que a expansão da fronteira destinava aos colonos”7.
                Alguns grupos indígenas, quilombolas e vadios deveriam ser controlados, por impedirem o avanço da sociedade e da civilidade. Sucessivas expedições punitivas foram organizadas e enviadas para várias regiões com o intuito de exterminar os índios mais resistentes aos aldeamentos e ao domínio de suas terras, destruir os quilombolas e exercer o controle sobre os grupos de vadios que viviam clandestinamente nessas fronteiras”8.
            Nota-se aí um jogo de interesses entre a coroa portuguesa e o clero, uma vez que se buscam outras possibilidades de manter a economia com a exploração de novos recursos e a garantia da permanência e influência da igreja, no momento em que o ciclo minerador na região de Vila Rica e Mariana estava em plena decadência.
            A instalação da Corte Portuguesa no Rio de Janeiro, em 1808, vai ser um divisor de águas na história administrativa, econômica, cultural e religiosa do Brasil. O então príncipe regente d. João providenciou em fazer as mudanças e adaptações necessárias para que se executasse um projeto metropolitano.
            A ação catequética e doutrinária da Igreja Católica em Rio Pomba será intensificada no século XIX pela grande influência de uma moral rigorista, cujas origens estão na religião do medo, de escrúpulos e de uma mentalidade puritana, de acordo com o trabalho pastoral de Dom Antônio Ferreira Viçoso, conde de Conceição, bispo de Mariana entre 1844 e 1875, que irá adotar uma moral jansenista na sua diocese, com o que se torna grande protagonista da reforma tridentina no catolicismo brasileiro.
             Graças a essa tradição jansenista “a centralização da moral no pecado, o rigor, o medo da condenação, os escrúpulos da consciência, a dependência da confissão, a estreita ligação entre a confissão e a eucaristia, [...]. O jansenismo como movimento reformador na Igreja teve alguns aspectos positivos. No  campo  dogmático,  destacou  o  senso  mistérico  da   fé,  dando  ênfase à onipotência divina, diante da qual o homem deve assumir uma atitude de adoração respeitosa. No campo moral, reagiu contra a mentalidade laxista e descompromissada; propôs uma autenticidade da vida cristã, com renovação de vida e conversão interior“9.  
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7. Idem.
8. Ibidem.
9. MELO, Amarildo José de Jansenismo no  Brasil:  traços  de  uma  moral  rigorista.  Aparecida, SP: Editora Santuário,
              2014.
            Dom Antônio Viçoso além de tornar-se um missionário popular, tinha como prioridades pastorais “a reforma do clero e a do povo10. O que nos leva a crer, que seu apostolado deixou marcas na religiosidade da população mineira, herdadas pela família de Lola, o que fez dela uma católica obediente e fervorosa.
           
O século XX e o renascimento espiritual da Cidade de Rio Pomba
                        “Pois é graças aos símbolos que o homem sai de sua situação particular e se ‘abre’                     para o             geral e o universal”. (Mircea Eliade)

            “O comportamento religioso dos homens contribui para manter a santidade do mundo. [...]. Seja qual for o contexto histórico em que se encontra, o homo religiosus acredita sempre que existe uma realidade absoluta, o sagrado, que transcende este mundo, que aqui se manifesta, santificando-o e tornando-o real. Crê, além disso, que a vida tem uma origem sagrada e que a existência humana atualiza todas as suas potencialidades na medida em que é religiosa, ou seja, participa da realidade”11.
            Por sua peculiaridade religiosa a população da Zona da Mata chega ao século XX sob as influências da reforma na diocese realizadas no tempo de Dom Antônio Viçoso, e o Brasil vai sentir os efeitos das transformações políticas, socioculturais e econômicas.
            A cidade de Rio Pomba é marcada por um acontecimento espiritual e singular a partir do exemplo de vida simples de uma mulher reclusa, que através do seu zelo pelo Sagrado Coração de Jesus vai propagar uma forte devoção na região a serviço da evangelização.
             Ao longo de uma vida de contemplação e abstinências, esse serviço evangelizador vai ser conhecido no país inteiro graças às matérias em periódicos da região e das revistas e jornais de grande circulação no país.
            Floripes Dornellas de Jesus – Lola, “num fenômeno testemunhado por toda uma cidade e que desafia a ciência [...]  chamada de ‘Santa de Rio Pomba’ – pacata cidade mineira – ela, a princípio, recebia a milhares de romeiros que iam buscar em seu exemplo forças para suportar dores e fé, para conseguir graças12. 
            Entre as décadas de 1940 e 1990, as notícias sobre Lola vão tomar proporções maiores. Comparações com outros casos supostamente milagrosos, ao longo de séculos, vão ser feitas para tentar explicar o fenômeno que desafia a ciência e recupera e dá consistência ao catolicismo mineiro.
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10. Idem.
11. ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
12. O Dia. Edição 7855 de 04 de novembro de 1973. s. p. Acervo Museu Histórico de Rio Pomba.
            “O fato mais admirável, porém, é o ocorrido em Rio Pomba. Muitos prelados, sacerdotes e fiéis têm feito longas viagens a fim de presenciar “de visu” o fenômeno da estigmatizada Teresa Neuman, da Baviera, na Alemanha, que não se alimenta desde 1921. Entretanto, nas circunvizinhanças da cidade mineira de Rio Pomba, em menores proporções, um fenômeno análogo apresentado por uma simples camponesa – Floripes Dornelas de Jesus QUE NÃO SE ALIMENTA A MAIS DE 8 ANOS.  [...] Não pretendemos proceder ao juízo da Santa Igreja sôbre o caso; mas vemos [...], um fenômeno místico muito semelhante ao de Santa Catarina de Sena, Santa Ludovina e outras que passaram anos e anos na mais completa abstinência, não comendo nem bebendo cousa alguma, a não ser a Sagrada Comunhão”13.
            A educação também estará ligada à expressão da religiosidade. A cidade vai abrigar unidades escolares com nome ligados ao catolicismo como, por exemplo, o Colégio São José, a Escola Municipal Nossa Senhora das Graças, a Escola Estadual Padre Manoel de Jesus Maria e o Colégio Regina Coeli.

Colégio Regina Coeli

                        “Tudo se resolve em termos de ternura. E em termos de perdão. A compaixão é o                       segredo último da condição humana”. (Antônio Carlos Vilaça)

            Com grandiosa devoção, a Ordem das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus, sob o olhar de sua fundadora madre Francisca Xavier Cabrini (1850-1917), “que queria propagar a devoção ao Sagrado Coração pelo exercício das obras de misericórdia, espirituais e corporais14, chega ao Brasil no final do século XIX.
            Madre Cabrini, beatificada em 1938 e canonizada em 1946, conservava grande devoção pelo Coração de Jesus e o de sua mãe Maria Santíssima, e por Santa Margarida Maria Alacoque, discípula do Sagrado Coração que recebeu a “Grande Promessa”15.  
            No início século XX as religiosas se instalam em Rio Pomba e em 19 de março de 1928, madre Rosário Marquesini funda a Escola Normal Regina Coeli, no alto do morro da Bôa Vista. Madre Rita Copaloni é nomeada superiora da escola16. O colégio funciona até os dias atuais e pode ser visto de diversos pontos da cidade.
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13. FERREIRA, Roberto Nogueira.  Cem anos-luz!:   O  imparcial, 1896-1996;  Um  jornal, um  jornalista,  uma  cidade.
              Brasília. R.N. Ferreira, 1996.
14. SÁ, André.  O Sagrado Coração de Jesus:  Esperança, solução e consolo para cada um de nós. 1 ed. São Paulo:
                Petrus Editora, 2008. p. 96.
15. Idem
16. Ecos da Escola Normal “Regina Coeli”. Publicação anual, número 1. Acervo Museu Histórico de Rio Pomba.
Frágua de Amor: Lola a “santa” de Rio Pomba
                        “No perfil que tantas pessoas já fizeram de Floripes Dornellas de Jesus, Lola de Rio                   Pomba, ainda não vi nenhuma referência a ela como a Santa do Silêncio. Foi assim                    que a conheci”(Marcio Deotti)17.

            Nascida aos 09 de junho de 1913, no distrito do Bom Retiro – atual sítio Simão, cidade de Mercês (numa distância aproximada de 26,6 km de Rio Pomba), Floripes Dornellas de Jesus, a Lola, vai partilhar o mesmo espaço familiar junto com outros doze irmãos: seis homens e seis mulheres. Ninguém sabe explicar ao certo, quando e porque Floripes recebeu esse apelido.
            Ainda na sua adolescência, toda a família se muda para o sítio Lindo Vale, localizado no atual bairro Experimental, em Rio Pomba. Embora com grande extensão de terras, o local é humilde e a família dispõe de poucos recursos financeiros.
            Seus pais conservadores e muito religiosos criaram os filhos de acordo com os ensinamentos cristãos católicos, e Lola, como qualquer criança da sua época dividia seu tempo entre escola, lazer e oração. Fez sua Primeira Comunhão na Matriz de São Manoel, e logo ingressou no grupo da Pia União das Filhas de Maria e no Apostolado da Oração na Paróquia. Assistia à missa diariamente e comungava.
            É na adolescência que brota o silêncio de Lola. Desde então praticava com convicção sua fé. Uma católica fervorosa: além de rezar o terço e assistir diariamente as missas na Igreja matriz de São Manoel, ficava horas em adoração diante do Sacrário.
            “Todos os domingos eu ia assistir à Santa Missa na Matriz. Saía de madrugada, a pé, rezando o terço. No tempo do frio ou debaixo de chuva. Como era gostoso andar na frescura da manhã, antes de o sol nascer, e ouvir a passarada cantar os louvores de Deus! Na cidade encontrava poucos fiéis que iam em direção à Matriz. Antes da Missa eu fazia adoração ao Santíssimo e outras orações. Durante a Missa comungava. Terminando o ofício, os fiéis iam-se retirando, e eu ficava a sós na igreja. Como era gostoso ficar na igreja no silêncio. Interessante: ninguém me importunou perguntando o que eu fazia tanto tempo na igreja. O meu encontro com Jesus se estendia até às duas horas da tarde”18.
            No ano de 1934, após subir em uma jabuticabeira, desobedecendo às ordens da mãe, Lola cai sobre um cercado de bambus, perfura o baço e lesiona a coluna. Parecer médico após dois anos de penoso tratamento em Juiz de Fora: paraplegia dos membros inferiores. Daí em diante, sua vida muda bruscamente e vai transformar a fé de muitos dos seus futuros seguidores.
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17. IBRAHIM, Marcio Antônio Deotti. O Grande Tesouro de Lola. 2007. www.santalola.com.br.
18. Palavras de Lola. Revista O Cruzeiro. Edição de 23 de novembro de 1968. Acervo Museu Histórico de Rio Pomba.
            Diante de uma dose excessiva de medicamentos que danificou o seu estômago, após algum tempo da enfermidade o organismo começa a rejeitá-los, assim como quase todos os alimentos sólidos e líquidos oferecidos. Nesse tempo, segundo relato dos seus acompanhantes, apenas conseguia beber um caldo feito de cidra ralada*.
            Aos poucos vai se abstendo por completo de tudo que é alimento, e como num mistério, só consegue ingerir a hóstia consagrada oferecida pelo padre da sua paróquia. Apesar de tudo, como toda mulher ela menstrua, porém, curiosamente, passa por um fenômeno orgânico de completa ausência de desassimilação (funções orgânicas naturais).
            “Desesperada de alcançar cura, Lôla decide-se, em 1936, a evitar qualquer tratamento e adotar um novo tipo de vida. Ela declarou à família ter verificado que Deus não queria a dedicação dos dias à Igreja, como freira, mas que sofresse pelos pecadores. Ela começou por recusar remédios e alimentos. A princípio tomava um caldo de lima ralada, laranja gelada e caldo de cidra. E nessa se manteve até 1943, quando decidiu abolir completamente qualquer tipo de alimentação, até mesmo líquida, para se entregar a uma abstinência completa19.
              Não ficou isenta de assistência espiritual porque ora um sacerdote, ora um diácono ou ministro da Eucaristia, ia todos os dias ao sítio levar-lhe a comunhão. Sem sair da cama e de seu quarto, Lola tornou-se uma missionária popular. Durante anos se entregará a um serviço evangelizador, e seu modo de vida será conhecido no Brasil inteiro. Mergulha numa vida de ascese, e abre um diálogo pessoal e profundo com o sagrado. É através da devoção ao Sagrado Coração de Jesus que Lola vai procurar tocar no coração de Deus.
            Lola dedicava horas de seu dia à oração e à confecção de fitas do Sagrado Coração de Jesus. Também realizava alguns trabalhados manuais como confecção de terços e a renda obtida destinava-se para a confecção de livros com a Devoção e a Novena do Sagrado Coração de Jesus.
            “Lola transmitia conforto, fortaleza e serenidade, deixando gravado nos corações dos fiéis o traço vivo de fé inabalável ao Sagrado Coração de Jesus através da oferta de santinhos, terços e novena”20.
            Muitos vão atestar curas milagrosas, por isso sua fama cresce com intensidade assim como a multidão que a procura.  Passou a ser chamada de “santa” e o espaço se torna pequeno, pois a fama ganha proporção nacional através das matérias sensacionalistas e especulativas.

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* O caldo de cidra era feito de um  fruto da cidreira, que tem aparência de uma laranja, conhecido também como toranja
   ou laranja– toranja.
19. Revista Manchete. Edição de 02 de novembro de 1957. Acervo Museu Histórico de Rio Pomba.
20. O Imparcial. Edição de 18 de abril de 1999.
            “A casos que são conhecidos em uma área bem restrita e que, muitas vezes, têm existência efêmera, caindo muito cedo no esquecimento. Outros aderem ao imaginário religioso, folclórico e social, ganhando fama nacional e internacional”21.
            Lola não comemorava o seu aniversário no próprio dia do seu nascimento conforme o registro da Certidão - 9 de junho, mas sim o dia do seu batismo que era 27 do mesmo mês. Além disso, respondia com três nomes distintos: Floripes Dornellas de Jesus - o mais usual, Floripes Dornellas da Costa – o qual assinava nos documentos, e Floripes Maria de Jesus.
            Na década de 1950 ela quase perde a posse das terras. Nesse período recebe a multidão que acorre aos seus aposentos para buscar palavras de conforto e uma resposta de Deus aos seus problemas. Ouvia silenciosamente cada um, e sempre havia uma solução favorável para cada caso. Era o Sagrado coração que lhe respondia e ela passava as informações.
            Lola jamais falou com alguém sobre sua intimidade com o divino. Silenciava no mais profundo da sua alma a possibilidade de revelar ao mundo alguma provável visão da presença ou audição da voz do próprio Deus. Ela somente afirmava que “sente”22 o que o Sagrado Coração quer que se faça, quer o que seja dito.
            A irmã mais nova, única ainda viva e que cuidava dela começou a se irritar com os infortúnios constantes. O Bispo Diocesano proíbe que ela receba a multidão e jornalistas, a fim de preservar sua imagem e sua saúde bastante debilitada. Passou a receber só os amigos mais íntimos e membros da Igreja. Padres, seminaristas e religiosos são os únicos que constantemente conversam com ela, contam suas dúvidas de vocação e ouvem conselhos. Provavelmente querem partilhar a intimidade dela com o sagrado e entender o mistério que cerca sua vida.
            “Lôla, a donzela-prodígio de Rio Pomba: Diante da romaria diária que acorre ao recanto da piedosa donzela, a três quilômetros desta cidade, onde uma multidão que dia a dia mais aumenta vai buscar lenitivo para seus sofrimentos físicos e Moraes através das valiosas orações de Floripes Dornelas de Jesus – a Lôla”23.
            Nos últimos meses de vida Lola só recebia visitas cada vez mais restritas: um ministro da eucaristia ou um sacerdote, o médico que acompanhava seu tratamento de saúde e os seus cuidadores. Esse grupo entrava e saia do interior da casa sem nada a dizer. Lá fora, não se sabia ao certo como ela estava. Pairava um enorme silêncio.

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21. PEREIRA, José Carlos. Interfaces do sagrado: catolicismo popular: o imaginário religioso nas devoções  marginais.
               Aparecida, SP: Editora Santuário, 2011.
22. Revista Manchete. Edição de 02 de novembro de 1957. Acervo Museu Histórico de Rio Pomba.
23. O Imparcial. Edição de 22 de junho de 1951.

            Moradores não entendiam a causa do isolamento de Lola por mais de 40 anos e o porquê de uma reclusão cercada de sigilos. Sua vida tornou-se um fator importante para a história da cidade e  de grande relevância para a população local. A falta de notícias levava muitos a pensar que ela já tivesse morrido.
             “Nem moradores entendem isolamento. Gerações mais novas pouco sabem sobre Lola. Alguns acham que ela já morreu”. A matéria do jornal relata também que em Rio Pomba, “os vestígios de Lola estão por toda parte”. E que os seus cuidadores mantinham uma fidelidade “quase islâmica. Cega”. Como exemplo, a senhora Miriam Rodrigues Vieira, uma entre tantos outros afilhados e afilhadas de Floripes na cidade, que afirmou na época ser “Tudo para preservar a pessoa de Lola e impedir uma nova invasão de romeiros na cidade”24.
            Floripes Dornellas de Jesus, a “Lola” faleceu em 09 de abril de 1999 aos 86 anos de idade. Seu corpo foi velado na Igreja Matriz de São Manoel. Exatamente no lugar onde o caixão ficou está pregada no chão uma placa em bronze onde se lê: “TUDO POR VÓS, Ó SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS!” AD PERPETUAM REI MEMORIAM . NESTE LOCAL FOI VELADO O CORPO DE: FLORIPES DORNELLAS DE JESUS (LOLA) *27.6.1913 + 9.4.1999 RIO POMBA 9 E 10 DE ABRIL DE 1999”. Segundo estimativas do Jornal O Imparcial e da polícia local 5.000 pessoas foram ao velório na igreja matriz para dar seu último adeus à sua “santa”.
            Está sepultada no jazigo da família, no cemitério municipal, local de constante visita e veneração. O título de “santa” gerou conflitos, pois segundo um jovem chamado Gérson Rodrigues, “pessoas contrárias à devoção e que não admitiam sua santidade tentaram profanar o jazigo e destruí-lo”25.
            A casa foi aberta definitivamente aos visitantes e curiosos. O quarto de Lola tornou-se local de culto e peregrinação de fiéis e devotos. É possível que ali sempre houvesse alguma energia sobrenatural durante todo o tempo em que ela viveu, e essa mesma energia possa permanecer até hoje em todo o ambiente. Acredita-se que o próprio clima e as orações favorecem isso, como numa sinergia. O Sacrário, as imagens, as orações, os religiosos, tudo provavelmente converge para um encontro com a presença divina. 
            Junto à casa principal do sítio foi construído um enorme salão, onde na entrada principal se lê “Recanto Sítio da Lola”. Uma espécie de capela-santuário, na qual ao 3º domingo de cada mês fiéis de diversas partes de Minas Gerais e do Brasil dirigem-se para assistir à missa e rezar pela tão desejada canonização.

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24. Jornal O Globo. Edição de 18 de janeiro de 1998.
25. Depoimento voluntário de Gérson Rodrigues durante uma conversa na porta da igreja matriz de Rio Pomba.
             “O sagrado tem muitas faces. Uma delas se revela nas devoções marginais. Aquela categoria de devoção que não é reconhecida pela Igreja Católica, mas            que está por aí, permeada nas práticas rituais dos fiéis, independentemente de ser considerada ou não pela Igreja”26.
             Há um bilhete muito divulgado onde Lola aconselha um amigo para que “Em suas orações lembra sempre do Divino. Sagrado Coração de Jesus eu confio em Vós”27. Uma prova essencial de todo o seu esforço em propagar a devoção e atestar o seu amor incondicional pelo Coração de Jesus.

A Causa da Lola
            Após a morte de Lola, parte do clero mineiro e um grupo de 50 pessoas composto por membros da elite de Rio Pomba, que a acompanhou ao longo da sua vida, começou a mover uma ação para a abertura de um processo de reconhecimento da sua santidade, com a intenção de incentivar um processo de canonização.
            A campanha começou a tomar força com correntes de orações, o reconhecimento do Bispado de Mariana, lançamentos de alguns livros e criou-se a Associação dos Amigos da Causa de Lola (AACL) com sede própria. Ao usar de uma Folha Informativa denominada O Beija-flor, a Associação promoveu uma divulgação em larga escala para que pessoas pudessem dar testemunho de possíveis graças alcançadas.
            Os objetivos principais da Associação eram “poder acolher a todos que desejarem conhecer mais a respeito da vida de Lola”, “fornecer subsídios a todos que desejarem trabalhar para a divulgação da vida singular da Lola, de total união com Deus” e “angariar doações e reverter em benefícios da Causa da Lola28
            O trabalho desse grupo ganhou energia no início da campanha pela canonização de Lola, porém com o decorrer do processo a Associação se dissolveu. Muita gente na cidade já não se lembra disso ou desconhece tal incentivo. No entanto, percebe-se certa precaução e as pessoas evitam comentar.
            A causa de Lola está em processo no Vaticano desde o ano de 2005. Seus seguidores e devotos aguardam em oração e em silêncio sua beatificação. Acreditam, segundo parecer favorável da Santa Sé, que sua imagem seja elevada aos altares da Igreja Católica.



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26. PEREIRA, José Carlos.  Interfaces do sagrado: catolicismo popular:  o imaginário religioso nas devoções  marginais.
                Aparecida, SP: Editora Santuário, 2011.
27. O Imparcial. Edição de 18 de abril de 1999. p.5.
28. O Beija-Flor. Folha Informativa da Associação dos Amigos da Causa da Lola – AACL. Ano 1, n. 2. p.3.
Origem e propagação da devoção popular ao Sagrado Coração de Jesus
            “Coração Santo, Tu reinarás, Tu nosso encanto sempre serás! Jesus amável, Jesus piedoso, Deus amoroso,  frágua de amor!  (T. Mondin)

            Desde a Idade Média se tem conhecimento das experiências pessoais e místicas de homens e mulheres que revelaram uma profunda devoção e intimidade com o Sagrado Coração de Jesus, o que lhes rendeu elevação aos altares da Igreja Católica e o título de santos.
            Houve também o incentivo de Papas que favoreceram a propagação da fé e a relação de esperança e consolo entre os cristãos católicos do mundo inteiro. Seus escritos e aprovações visam a fortalecer uma devoção que não se compara no âmbito da fé.
            A devoção ao Sagrado Coração de Jesus surge entre os séculos XIII e XIV, na cidade alemã de Helfta, região da Saxônia, com as monjas beneditinas Gertrudes “a Grande” (1256-1303), considerada como um importante testemunho místico, e Matilde de Magdeburgo (1212-1283). Místicas, as duas viveram na radicalidade a experiência do amor divino, favorecidas “igualmente com visões do Sagrado Coração”29.
            João Eudes (1601-1680) contribuiu para que a devoção deixasse de “ser exclusivamente privada” e se tornasse “pública e oficial”30.   Francisco de Sales (1567-1622) e Joana de Chantal (1572-1641) fundaram a Ordem da Visitação, e “foi num convento dessa ordem religiosa que viveu a futura discípula do Sagrado Coração, santa Margarida Maria”31.
            Margarida Maria Alacoque (1647-1690), “recebeu graças de vida mística extraordinária desde muito cedo [...], sobretudo aquelas graças conhecidas como As Quatro Grandes Revelações” e A Grande Promessa, “ocorridas entre dezembro de 1673 e 1675, enquanto a santa adorava o Santíssimo Sacramento. Não parece fortuita a circunstância de essas revelações terem acontecido diante do Santíssimo Sacramento. Pois duas das práticas de piedade muito ligadas à devoção ao Sagrado Coração são exatamente a adoração ao Santíssimo Sacramento e a comunhão frequente”32
            Seguiram-se a estes exemplos de devoção e apostolado os de Cláudio La Colombière (1641-1682), Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716), Afonso de Ligório (1696-1787), João Bosco (1815-1888), a já citada neste trabalho madre Francisca Xavier Cabrini (1850-1917), entre outros.


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29. SÁ, André. O  Sagrado  Coração  de  Jesus: esperança, solução e consolo para cada um  de  nós.  São  Paulo:  Petrus,
               2008. p.18.
30. Idem. p. 25.
31. Idem. p. 38.
32. Idem. p. 47.
            Os Papas Pio IX (1846-1878), Leão XIII (1878-1903), Pio XI (1922-1939) e Bento XVI (2005-2013) aprovaram e incentivaram “ex cathedra” à devoção de todo o povo cristão católico ao Sagrado Coração de Jesus, baseados na crença de que Jesus Cristo é a “cabeça da Igreja”.

Conclusão
            A vida de Floripes Dornellas de Jesus (Floripes Maria de Jesus, Floripes Dorenellas da Costa), a Lola, chama a atenção para uma pesquisa acadêmica atenta e cuidadosa, pois cercada de mitos e mistérios construídos por seus seguidores, sua figura é modelada numa imagem possível de várias especulações e investigações.
             Pesquisar como sua história é construída e quais tendências abarca, é nosso objetivo. História enraizada ou não numa fé religiosa devocional e mística tem fortalecido a construção da deidade de Lola. Há muitos pretextos para negar as evidências. Para quem acredita no poder da intercessão dos santos milagres não são explicados, são vividos. A verdadeira fé não precisa de folclore e não se mede pelos números de fiéis, é fato e transcende a compreensão humana.
            Este trabalho tem como foco pesquisar e entender as ações propagadoras de uma devoção popular movida pelo ato evangelizador de uma mulher que viveu seu tempo como membro de uma sociedade em transformação.
            Estimular cada vez mais a procura por dados e informações que vão trazer o conhecimento de aspectos até então desconhecidos, não só em ter a figura dessa personagem como foco central da religiosidade e devoção popular, como o encontro dos diferentes níveis da sociedade rio-pombense e mineira.
            Em contrapartida, manter um diálogo com a história da cidade que tem suas origens no catolicismo, e a continuidade dessa mesma história na figura de Lola como a força do movimento e manutenção da religiosidade e fé católica na região, ainda que quase três séculos depois de dominação e ocupação graças ao empenho do padre Manoel de Jesus Maria.
            Acreditamos ser possível fazer uma conexão entre a história de Rio Pomba e a vida espiritual de Lola, com o desejo de observar as outras vertentes religiosas existentes na localidade e como se dá o diálogo inter-religioso.
            Para isso, vimos à necessidade de estudar a história da cidade desde a sua fundação, modos de ocupação, exploração e dominação, as influências do catolicismo, a cultura e a religiosidade local entre os séculos XVIII e XX e, principalmente, a devoção popular que moveu fé e diversos conflitos.   O que os fatos, segundo testemunhos, da vida de Lola trazem de novidade para a História do Cristianismo e da Igreja Católica, principalmente a Igreja local, quais as contribuições para as discussões no campo das Ciências Humanas, quais mudanças podem trazer para a luz espiritual da modernidade, numa época marcada pelo ateísmo, ceticismo, hedonismo econômico e o acelerado crescimento do protestantismo no Brasil? São indagações que incentivam a procura de respostas no silêncio.
            Diante da profunda devoção ao Sagrado Coração de Jesus, sua frágua de amor estava sob a luz do empenho em propagar a imagem de esperança que ela cultuava certamente e em conformidade ao que segundo se atribui as palavras do apóstolo João na sua primeira epístola: “Deus é Amor” (I Jo 4,8).
            A Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano, intitulou Floripes Dornellas de Jesus – Lola, como Serva de Deus, com a declaração de NULA OSTA, em 30 de novembro de 2005, sob o processo de número 2699.
           
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