O Silêncio de Lola nos Recantos de São Manoel do Rio Pomba
ANPUH
– VI ENCONTRO DO GT NACIONAL DE HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E DAS RELIGIOSIDADES –
Rio de Janeiro, 2016.
Frágua de amor: O silêncio de Lola nos recantos de
São Manoel do Rio Pomba
Carlos Henrique
Silva¹
Resumo:
Um
rio, uma cidade, uma mulher, um mistério espiritual: Floripes Dornellas de
Jesus, conhecida como “Lola”, é acometida por uma paraplegia ainda quando jovem
na década de 1930. Após algum tempo, passa a se alimentar unicamente de hóstia
consagrada oferecida pelos sacerdotes e ministros da sua paróquia. Sua história
de vida conduz ao renascimento espiritual da cidade de Rio Pomba, localizada na
Zona da Mata mineira, uma vez que esta mesma cidade é fundada por um padre e
tem suas origens na ação evangelizadora do catolicismo do século XVIII e XIX. O
trabalho missionário de Lola, durante o século XX, fortalece a fé local com uma
devoção incomparável ao Sagrado Coração de Jesus.
Palavras-chave: Catolicismo,
mistério, silêncio, contemplação, Sagrado Coração de Jesus.
Abstract: A river,
a city, a woman, a spiritual mystery: Floripes Dornellas de Jesus, known as
“Lola”, was diagnosed as paraplegic when she was Young, in the 1930’s. After
some time, she was only fed with consecrated host offered by priests and
ministers of her Parish. Her life story leads to spiritual rebirth in the city
of Rio Pomba, located at Minas Gerais’ Zona da Mata, once this same city was
founded by a priest and has its origins in the evangelizing action of
Catholicism of the 18th and 19th centuries. The missionary
work of Lola, during the 20th century, strengthened the local faith
with an incomparable devotion to the Sacred Heart of Jesus.
Keywords:
Catholicism, mystery, silence, contemplation, Sacred Heart of Jesus.
Introdução
Estudar a história local é relevante. É
procurar através das fontes escritas, fatos históricos, fontes materiais não
escritas ou imateriais os caminhos a trilhar até chegar às evidências. Não se
trata de uma simples interpretação do pesquisador, mas uma tentativa de
capturar nas narrativas do passado respostas para transmitir na forma mais fiel
os traços e características herdadas para se explicar o presente e o futuro, e
contribuir para que sejam diferentes e não um ciclo onde tudo se repete.
Buscar numa
manifestação religiosa particular a sua relação com o cotidiano e trazê-la à
luz da historiografia se faz um grande desafio. O homem, autor e protagonista
da história, ao longo dos tempos procurou uma resposta para a sua existência e
de tudo o que lhe cerca tanto no plano material
quanto no plano espiritual. Resposta
esta que seja convincente para explicar os fenômenos
______________________
1. Graduado em História pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Membro do NEPHIC/UERJ - Núcleo de
Estudos e Pesquisas da História da Igreja Católica. E-mail:
carloshenriquedoihgbi@bol.com.br.
e
tudo o que transcende a sua existência e a leitura que ele faz da realidade.
Realizar uma pesquisa
apoiada na história do lugar e na vida de uma pessoa que ali se destaca, a fim
de gerar um maior interesse da população pelo conhecimento em todos os níveis para
dialogar com a história das suas origens, é valorizar a identidade e a memória
local, o orgulho de pertencer na tentativa de uma possível aproximação entre a História
como ciência e a comunidade.
Então, por que não dialogar com um
caso isolado dentro do cristianismo, suas representações coletivas reais ou
construídas, a força que move a fé de um determinado grupo na “relação de identidades e de distinções
simbólicas, com a finalidade de legitimar as suas próprias escolhas e condutas”2,
e trazê-lo para o contexto histórico?
Explorar
a história do cristianismo sem ser tendencioso é muito complexo. É um desafio
para o historiador em abdicar de suas concepções religiosas ou de um forte
ateísmo e dar corpo à sua escrita. “Podemos
conceber uma experiência religiosa que não deva nada à História. Porque o
cristianismo [já o disse] é por essência uma religião histórica: quero dizer,
uma religião cujos dogmas primordiais assentam em acontecimentos”3.
Fazer uma associação entre a
história local com a história particular de uma pessoa caracterizada por
devoções singulares e invocações não é simples, porém, entre possíveis distinções
pode haver pontos convergentes o que provavelmente pode tornar a pesquisa mais
abrangente de acordo com as conexões entre um acontecimento e outro.
Este trabalho tem a intenção de
buscar na origem do culto e devoção ao Sagrado Coração de Jesus em fins do
século XII, e na história da cidade mineira de Rio Pomba desde sua fundação na
segunda metade do século XVIII, o conhecimento da causa de Floripes Dornellas
de Jesus, apelidada de “Lola”, para
contextualizá-lo ao teor da investigação histórica como objeto de estudo no
campo das Ciências Humanas e Religiosas, principalmente em História Social e
Cultural, e das Religiões e Religiosidades.
Acometida de uma queda em 1934 que
lhe custou os movimentos dos membros inferiores (paraplegia), Lola após dois
anos recusou consumir alimentos em forma sólida ou líquida e só ingeriu hóstia
consagrada até o dia de sua morte em 1999.
Não dormia, não comia, não bebia.
Passava curiosamente por completa ausência de desassimilação. Numa vida reclusa
de oração, silenciosa, contemplativa e de aconselhamentos, permanecia em
constante adoração diante do Sacrário que havia no seu quarto, e mantinha uma
devoção fervorosa ao Sagrado Coração de Jesus.
______________________
2. CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Trad. Lisboa:
Difel, 1990. p. 17.
3. BLOCH, Marc. Introdução à História: A História, os Homens e o Tempo. Publicações Europa-América, 1998. p.92.
Frágua de amor, fé abrasadora. Essa
devoção vai lhe render um trabalho árduo e missionário em busca da salvação de
muitas almas e uma fama incontestável. Seus restos mortais repousam e são
venerados por fiéis e seguidores no cemitério municipal de Rio Pomba.
Rio
Pomba: Cidade do sonho e da poesia. Atenas da Zona da Mata. Cidade Sedução
“Pelos
seus filhos ilustres e ilustrados que demos em elevado número, à política, ao ensino,
comércio, artes, clero, justiça e demais classes e ramos sociais a Minas e ao Brasil”4.
A história da ocupação da Zona da
Mata está intimamente relacionada com esgotamento da região mineradora, pois “com a queda da produção aurífera em Minas
Gerais, a partir da segunda metade do século XVIII, os governadores passaram a
incentivar a ocupação do sertão do leste mineiro a fim de descobrir terras
férteis para aumentar a produção de gêneros alimentícios, a extração de ouro e,
consequentemente, incrementar a arrecadação de impostos devidos à metrópole”5.
Situada às margens de um dos rios mais
importantes do estado de Minas Gerais, que lhe garantiu o nome, Rio Pomba é uma
cidade com características típicas do interior voltada à produção agropecuária.
Pacata e hospitaleira segue em passos curtos rumo ao progresso e ao
desenvolvimento. Possui uma relação de comércio fechado e uma economia bastante
centralizada. Quanto ao clima, apresenta um inverno rigoroso e um calor
intenso, com fortes chuvas entre os meses de setembro a março.
Localizada a cerca de 250 km de
distância da capital Belo Horizonte, 73 km de Juiz de Fora e 102 km de Mariana
- sede da Arquidiocese da qual faz parte - é considerada pela história da sua
fundação e de várias cidades ao entorno o “Berço
da Civilização da Zona da Mata Mineira”. Sua população nativa tem orgulho
de exaltá-la com os títulos de “Cidade do
Sonho e da Poesia, Atenas da Zona da Mata e Cidade Sedução”.
Sem qualquer atrativo turístico que
se destaque, quer por parte natural ou arquitetônica, a cidade e sua paisagem
bucólica têm um poder de encantar naturalmente seus visitantes, provavelmente
pelo carisma oferecido por seus habitantes na grande maioria gente simples,
educada, generosa e muito hospitaleira.
______________________
4.
O Imparcial. Edição Especial. Rio
Pomba, 15/08/1981.
5. ALVES, Romilda Oliveira. A conquista
e a expansão da fronteira: Zona da Mata Mineira (1808-50). In: Zona da Mata
Mineira: fronteira, escravismo e
riqueza.
Rio de Janeiro: Apicuri, 2014. p. 14.
Da ocupação definitiva da região até
sua emancipação recebe os nomes de Aldeia de Pomba e
Peixe,
Arraial do Pomba, Pomba e Rio Pomba, sucessivamente. O aniversário da cidade é
festejado em 25 de agosto, dia da sua emancipação política em 1832 com as instalações
solenes da Câmara e do Fórum.
As raízes do catolicismo em Rio
Pomba
A Freguesia do Mártir São Manoel do
Rio Pomba e Peixe dos Índios Croatos e Cropós é criada em 16 de fevereiro de
1718 subordinada ao bispado do Rio de Janeiro. Em 1831 passa ao termo de
Mariana.
O mártir São Manoel, um santo de origem persa, conhecido em toda a Europa,
especialmente em Portugal onde muitas famílias durante centenas de anos adotam esse
nome, foi escolhido como padroeiro da freguesia e do novo aldeamento.
Coincidência
ou não, um padre com o nome de Manoel (Manoel
de Jesus Maria) foi quem deu o pontapé inicial na colonização da região,
assim como na fundação da cidade. Ora, essa relação com a fé e a devoção vai
fazer com que a localidade tenha um forte vínculo espiritual e crie assim uma
tradição cristã católica que vai atravessar os séculos precedentes.
“A
instalação do Poder Régio nessa região, iniciou-se em 1767, quando o padre
Manoel de Jesus Maria lançou as bases de um grande aldeamento de índios e de um
povoado que constitui hoje, a cidade de Rio Pomba, pacificando indígenas e
estabelecendo um ambiente para a fundação de núcleos populacionais”6.
Em 1767, padre Manoel, presbítero
secular do Hábito de São Pedro, foi nomeado vigário colado e indicado para o
cargo de diretor dos índios croatos, cropós (ou coropós), botocudos e puris.
Recebe autorização para aldear e civilizar os sertões e as matas da região onde
estava localizada a incipiente aldeia de Rio Pomba. No dia 25 de dezembro do
mesmo ano celebra a primeira missa local.
Em 1770 começa o projeto da
construção da Igreja Matriz. Após um ano, ao se descobrir um erro, é feita uma
petição do padre Manoel à diocese para poder autorizar o arquiteto Antônio
Francisco Lisboa (o Aleijadinho) a
fazer acréscimos na planta original.
A igreja procurou manter sua função
em catequisar, converter e educar os indígenas. De início como fora um papel
assumido pelos padres jesuítas, expulsos do Brasil durante o governo do Marquês
de Pombal (1750-1777) caberia às outras ordens religiosas e ao clero secular
cumprir essa missão.
______________________
6. Idem.
A relação entre os colonizadores e
os indígenas foi tensa e conflituosa, apesar de que as crônicas da época falam
que padre Manoel tinha uma relação pacífica com os indígenas. Além disso, a
região era de difícil acesso, pois “além
dos obstáculos oferecidos pela mata espessa e pelos despenhadeiros, existiam
outros perigos que a expansão da fronteira destinava aos colonos”7.
“Alguns grupos indígenas, quilombolas e
vadios deveriam ser controlados, por impedirem o avanço da sociedade e da
civilidade. Sucessivas expedições punitivas foram organizadas e enviadas para
várias regiões com o intuito de exterminar os índios mais resistentes aos
aldeamentos e ao domínio de suas terras, destruir os quilombolas e exercer o
controle sobre os grupos de vadios que viviam clandestinamente nessas
fronteiras”8.
Nota-se aí um jogo de interesses
entre a coroa portuguesa e o clero, uma vez que se buscam outras possibilidades
de manter a economia com a exploração de novos recursos e a garantia da
permanência e influência da igreja, no momento em que o ciclo minerador na
região de Vila Rica e Mariana estava em plena decadência.
A instalação da Corte Portuguesa no
Rio de Janeiro, em 1808, vai ser um divisor de águas na história
administrativa, econômica, cultural e religiosa do Brasil. O então príncipe
regente d. João providenciou em fazer as mudanças e adaptações necessárias para
que se executasse um projeto metropolitano.
A ação catequética e doutrinária da
Igreja Católica em Rio Pomba será intensificada no século XIX pela grande
influência de uma moral rigorista, cujas origens estão na religião do medo, de
escrúpulos e de uma mentalidade puritana, de acordo com o trabalho pastoral de
Dom Antônio Ferreira Viçoso, conde de Conceição, bispo de Mariana entre 1844 e
1875, que irá adotar uma moral jansenista na sua diocese, com o que se torna
grande protagonista da reforma tridentina no catolicismo brasileiro.
Graças a essa tradição jansenista “a centralização da moral no pecado, o rigor,
o medo da condenação, os escrúpulos da consciência, a dependência da confissão,
a estreita ligação entre a confissão e a eucaristia, [...]. O jansenismo como
movimento reformador na Igreja teve alguns aspectos positivos. No campo
dogmático, destacou o
senso mistérico da
fé, dando ênfase à onipotência divina, diante da qual o
homem deve assumir uma atitude de adoração respeitosa. No campo moral, reagiu
contra a mentalidade laxista e descompromissada; propôs uma autenticidade da
vida cristã, com renovação de vida e conversão interior“9.
______________________
7.
Idem.
8.
Ibidem.
9. MELO, Amarildo José de Jansenismo no Brasil: traços de
uma moral rigorista. Aparecida, SP: Editora Santuário,
2014.
Dom Antônio Viçoso além de tornar-se
um missionário popular, tinha como prioridades pastorais “a reforma do clero e a do povo”10.
O que nos leva a crer, que seu apostolado deixou marcas na religiosidade da
população mineira, herdadas pela família de Lola, o que fez dela uma católica
obediente e fervorosa.
O século XX e o renascimento
espiritual da Cidade de Rio Pomba
“Pois é graças aos símbolos que o homem sai
de sua situação particular e se ‘abre’ para o geral e o universal”. (Mircea Eliade)
“O
comportamento religioso dos homens contribui para manter a santidade do mundo.
[...]. Seja qual for o contexto histórico em que se encontra, o homo religiosus
acredita sempre que existe uma realidade absoluta, o sagrado, que transcende
este mundo, que aqui se manifesta, santificando-o e tornando-o real. Crê, além
disso, que a vida tem uma origem sagrada e que a existência humana atualiza
todas as suas potencialidades na medida em que é religiosa, ou seja, participa
da realidade”11.
Por
sua peculiaridade religiosa a população da Zona da Mata chega ao século XX sob
as influências da reforma na diocese realizadas no tempo de Dom Antônio Viçoso,
e o Brasil vai sentir os efeitos das transformações políticas, socioculturais e
econômicas.
A
cidade de Rio Pomba é marcada por um acontecimento espiritual e singular a
partir do exemplo de vida simples de uma mulher reclusa, que através do seu
zelo pelo Sagrado Coração de Jesus vai propagar uma forte devoção na região a
serviço da evangelização.
Ao longo de uma vida de contemplação e abstinências,
esse serviço evangelizador vai ser conhecido no país inteiro graças às matérias
em periódicos da região e das revistas e jornais de grande circulação no país.
Floripes
Dornellas de Jesus – Lola, “num fenômeno
testemunhado por toda uma cidade e que desafia a ciência [...] chamada de ‘Santa de Rio Pomba’ – pacata
cidade mineira – ela, a princípio, recebia a milhares de romeiros que iam
buscar em seu exemplo forças para suportar dores e fé, para conseguir graças”12.
Entre
as décadas de 1940 e 1990, as notícias sobre Lola vão tomar proporções maiores.
Comparações com outros casos supostamente milagrosos, ao longo de séculos, vão
ser feitas para tentar explicar o fenômeno que desafia a ciência e recupera e
dá consistência ao catolicismo mineiro.
______________________
10. Idem.
11. ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins
Fontes, 1992.
12. O
Dia. Edição 7855 de 04 de novembro de 1973. s. p. Acervo Museu Histórico de
Rio Pomba.
“O fato mais admirável, porém, é o ocorrido
em Rio Pomba. Muitos prelados, sacerdotes e fiéis têm feito longas viagens a
fim de presenciar “de visu” o fenômeno da estigmatizada Teresa Neuman, da
Baviera, na Alemanha, que não se alimenta desde 1921. Entretanto, nas
circunvizinhanças da cidade mineira de Rio Pomba, em menores proporções, um
fenômeno análogo apresentado por uma simples camponesa – Floripes Dornelas de
Jesus QUE NÃO SE ALIMENTA A MAIS DE 8 ANOS. [...] Não pretendemos proceder ao juízo da
Santa Igreja sôbre o caso; mas vemos [...], um fenômeno místico muito
semelhante ao de Santa Catarina de Sena, Santa Ludovina e outras que passaram
anos e anos na mais completa abstinência, não comendo nem bebendo cousa alguma,
a não ser a Sagrada Comunhão”13.
A educação também estará ligada à
expressão da religiosidade. A cidade vai abrigar unidades escolares com nome
ligados ao catolicismo como, por exemplo, o Colégio São José, a Escola
Municipal Nossa Senhora das Graças, a Escola Estadual Padre Manoel de Jesus
Maria e o Colégio Regina Coeli.
Colégio
Regina Coeli
“Tudo
se resolve em termos de ternura. E em termos de perdão. A compaixão é o segredo
último da condição humana”. (Antônio Carlos Vilaça)
Com
grandiosa devoção, a Ordem das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus,
sob o olhar de sua fundadora madre Francisca Xavier Cabrini (1850-1917), “que queria propagar a devoção ao Sagrado
Coração pelo exercício das obras de misericórdia, espirituais e corporais”14,
chega ao Brasil no final do século XIX.
Madre Cabrini, beatificada em 1938 e
canonizada em 1946, conservava grande devoção pelo Coração de Jesus e o de sua
mãe Maria Santíssima, e por Santa Margarida Maria Alacoque, discípula do
Sagrado Coração que recebeu a “Grande Promessa”15.
No início século XX as religiosas se
instalam em Rio Pomba e em 19 de março de 1928, madre Rosário Marquesini funda
a Escola Normal Regina Coeli, no alto do morro da Bôa Vista. Madre Rita
Copaloni é nomeada superiora da escola16.
O colégio funciona até os dias atuais e pode ser visto de diversos pontos da
cidade.
______________________
13. FERREIRA, Roberto Nogueira.
Cem
anos-luz!: O imparcial, 1896-1996; Um jornal, um jornalista, uma cidade.
Brasília. R.N. Ferreira, 1996.
14. SÁ, André. O Sagrado Coração de Jesus:
Esperança, solução e consolo para cada
um de nós. 1 ed. São Paulo:
Petrus Editora, 2008. p. 96.
15. Idem
16. Ecos
da Escola Normal “Regina Coeli”. Publicação anual, número 1. Acervo Museu
Histórico de Rio Pomba.
Frágua de Amor: Lola a “santa” de
Rio Pomba
“No perfil que tantas pessoas já fizeram de
Floripes Dornellas de Jesus, Lola de Rio Pomba, ainda não vi nenhuma
referência a ela como a Santa do Silêncio. Foi assim que a conheci”(Marcio Deotti)17.
Nascida aos 09 de junho de 1913, no
distrito do Bom Retiro – atual sítio Simão, cidade de Mercês (numa distância
aproximada de 26,6 km de Rio Pomba), Floripes Dornellas de Jesus, a Lola, vai
partilhar o mesmo espaço familiar junto com outros doze irmãos: seis homens e
seis mulheres. Ninguém sabe explicar ao certo, quando e porque Floripes recebeu
esse apelido.
Ainda na sua adolescência, toda a
família se muda para o sítio Lindo Vale, localizado no atual bairro
Experimental, em Rio Pomba. Embora com grande extensão de terras, o local é
humilde e a família dispõe de poucos recursos financeiros.
Seus pais conservadores e muito
religiosos criaram os filhos de acordo com os ensinamentos cristãos católicos,
e Lola, como qualquer criança da sua época dividia seu tempo entre escola,
lazer e oração. Fez sua Primeira Comunhão na Matriz de São Manoel, e logo
ingressou no grupo da Pia União das Filhas de Maria e no Apostolado da Oração
na Paróquia. Assistia à missa diariamente e comungava.
É na adolescência que brota o silêncio
de Lola. Desde então praticava com convicção sua fé. Uma católica fervorosa:
além de rezar o terço e assistir diariamente as missas na Igreja matriz de São
Manoel, ficava horas em adoração diante do Sacrário.
“Todos
os domingos eu ia assistir à Santa Missa na Matriz. Saía de madrugada, a pé,
rezando o terço. No tempo do frio ou debaixo de chuva. Como era gostoso andar
na frescura da manhã, antes de o sol nascer, e ouvir a passarada cantar os
louvores de Deus! Na cidade encontrava poucos fiéis que iam em direção à
Matriz. Antes da Missa eu fazia adoração ao Santíssimo e outras orações.
Durante a Missa comungava. Terminando o ofício, os fiéis iam-se retirando, e eu
ficava a sós na igreja. Como era gostoso ficar na igreja no silêncio.
Interessante: ninguém me importunou perguntando o que eu fazia tanto tempo na
igreja. O meu encontro com Jesus se estendia até às duas horas da tarde”18.
No ano de 1934, após subir em uma
jabuticabeira, desobedecendo às ordens da mãe, Lola cai sobre um cercado de
bambus, perfura o baço e lesiona a coluna. Parecer médico após dois anos de
penoso tratamento em Juiz de Fora: paraplegia dos membros inferiores. Daí em
diante, sua vida muda bruscamente e vai transformar a fé de muitos dos seus
futuros seguidores.
______________________
18. Palavras de Lola. Revista O Cruzeiro. Edição de 23 de novembro de
1968. Acervo Museu Histórico de Rio Pomba.
Diante de uma dose excessiva de
medicamentos que danificou o seu estômago, após algum tempo da enfermidade o
organismo começa a rejeitá-los, assim como quase todos os alimentos sólidos e
líquidos oferecidos. Nesse tempo, segundo relato dos seus acompanhantes, apenas
conseguia beber um caldo feito de cidra ralada*.
Aos poucos vai se abstendo por
completo de tudo que é alimento, e como num mistério, só consegue ingerir a
hóstia consagrada oferecida pelo padre da sua paróquia. Apesar de tudo, como
toda mulher ela menstrua, porém, curiosamente, passa por um fenômeno orgânico
de completa ausência de desassimilação (funções orgânicas naturais).
“Desesperada
de alcançar cura, Lôla decide-se, em 1936, a evitar qualquer tratamento e
adotar um novo tipo de vida. Ela declarou à família ter verificado que Deus não
queria a dedicação dos dias à Igreja, como freira, mas que sofresse pelos
pecadores. Ela começou por recusar remédios e alimentos. A princípio tomava um
caldo de lima ralada, laranja gelada e caldo de cidra. E nessa se manteve até
1943, quando decidiu abolir completamente qualquer tipo de alimentação, até
mesmo líquida, para se entregar a uma abstinência completa”19.
Não ficou isenta de assistência espiritual porque ora um sacerdote, ora um
diácono ou ministro da Eucaristia, ia todos os dias ao sítio levar-lhe a
comunhão. Sem sair da cama e de seu quarto, Lola tornou-se uma missionária
popular. Durante anos se entregará a um serviço evangelizador, e seu modo de
vida será conhecido no Brasil inteiro. Mergulha numa vida de ascese, e abre um
diálogo pessoal e profundo com o sagrado. É através da devoção ao Sagrado Coração
de Jesus que Lola vai procurar tocar no coração de Deus.
Lola dedicava horas de seu dia à
oração e à confecção de fitas do Sagrado Coração de Jesus. Também realizava
alguns trabalhados manuais como confecção de terços e a renda obtida
destinava-se para a confecção de livros com a Devoção e a Novena do Sagrado
Coração de Jesus.
“Lola transmitia conforto, fortaleza
e serenidade, deixando gravado nos corações dos fiéis o traço vivo de fé
inabalável ao Sagrado Coração de Jesus através da oferta de santinhos, terços e
novena”20.
Muitos vão atestar curas milagrosas,
por isso sua fama cresce com intensidade assim como a multidão que a procura. Passou a ser chamada de “santa” e o espaço se torna pequeno, pois a fama ganha proporção
nacional através das matérias sensacionalistas e especulativas.
______________________
* O caldo de cidra era feito de um fruto da cidreira, que tem aparência de uma
laranja, conhecido também como toranja
ou laranja– toranja.
19. Revista Manchete. Edição de 02 de novembro de 1957. Acervo Museu Histórico
de Rio Pomba.
20. O Imparcial. Edição de
18 de abril de 1999.
“A
casos que são conhecidos em uma área bem restrita e que, muitas vezes, têm
existência efêmera, caindo muito cedo no esquecimento. Outros aderem ao
imaginário religioso, folclórico e social, ganhando fama nacional e
internacional”21.
Lola não comemorava o seu
aniversário no próprio dia do seu nascimento conforme o registro da Certidão -
9 de junho, mas sim o dia do seu batismo que era 27 do mesmo mês. Além disso, respondia
com três nomes distintos: Floripes Dornellas de Jesus - o mais usual, Floripes
Dornellas da Costa – o qual assinava nos documentos, e Floripes Maria de Jesus.
Na década de 1950 ela quase perde a
posse das terras. Nesse período recebe a multidão que acorre aos seus aposentos
para buscar palavras de conforto e uma resposta de Deus aos seus problemas.
Ouvia silenciosamente cada um, e sempre havia uma solução favorável para cada
caso. Era o Sagrado coração que lhe respondia e ela passava as informações.
Lola jamais falou com alguém sobre
sua intimidade com o divino. Silenciava no mais profundo da sua alma a
possibilidade de revelar ao mundo alguma provável visão da presença ou audição
da voz do próprio Deus. Ela somente afirmava que “sente”22 o que o Sagrado Coração
quer que se faça, quer o que seja dito.
A irmã mais nova, única ainda viva e
que cuidava dela começou a se irritar com os infortúnios constantes. O Bispo
Diocesano proíbe que ela receba a multidão e jornalistas, a fim de preservar
sua imagem e sua saúde bastante debilitada. Passou a receber só os amigos mais
íntimos e membros da Igreja. Padres, seminaristas e religiosos são os únicos
que constantemente conversam com ela, contam suas dúvidas de vocação e ouvem
conselhos. Provavelmente querem partilhar a intimidade dela com o sagrado e
entender o mistério que cerca sua vida.
“Lôla,
a donzela-prodígio de Rio Pomba: Diante da romaria diária que acorre ao recanto
da piedosa donzela, a três quilômetros desta cidade, onde uma multidão que dia
a dia mais aumenta vai buscar lenitivo para seus sofrimentos físicos e Moraes
através das valiosas orações de Floripes Dornelas de Jesus – a Lôla”23.
Nos últimos meses de vida Lola só
recebia visitas cada vez mais restritas: um ministro da eucaristia ou um
sacerdote, o médico que acompanhava seu tratamento de saúde e os seus
cuidadores. Esse grupo entrava e saia do interior da casa sem nada a dizer. Lá
fora, não se sabia ao certo como ela estava. Pairava um enorme silêncio.
______________________
21. PEREIRA, José Carlos. Interfaces do sagrado: catolicismo
popular: o imaginário religioso nas devoções
marginais.
Aparecida, SP: Editora
Santuário, 2011.
22. Revista Manchete. Edição de 02 de novembro de 1957. Acervo Museu Histórico
de Rio Pomba.
23. O
Imparcial. Edição de 22 de junho de 1951.
Moradores não entendiam a causa do
isolamento de Lola por mais de 40 anos e o porquê de uma reclusão cercada de
sigilos. Sua vida tornou-se um fator importante para a história da cidade e de grande relevância para a população local. A
falta de notícias levava muitos a pensar que ela já tivesse morrido.
“Nem
moradores entendem isolamento. Gerações mais novas pouco sabem sobre Lola.
Alguns acham que ela já morreu”. A matéria do jornal relata também que em Rio
Pomba, “os vestígios de Lola estão por toda parte”. E que os seus cuidadores
mantinham uma fidelidade “quase islâmica. Cega”. Como exemplo, a senhora Miriam
Rodrigues Vieira, uma entre tantos outros afilhados e afilhadas de Floripes na
cidade, que afirmou na época ser “Tudo para preservar a pessoa de Lola e
impedir uma nova invasão de romeiros na cidade”24.
Floripes Dornellas de Jesus, a “Lola” faleceu em 09 de abril de 1999 aos
86 anos de idade. Seu corpo foi velado na Igreja Matriz de São Manoel. Exatamente
no lugar onde o caixão ficou está pregada no chão uma placa em bronze onde se
lê: “TUDO POR VÓS, Ó SAGRADO CORAÇÃO DE
JESUS!” AD PERPETUAM REI MEMORIAM . NESTE LOCAL FOI VELADO O CORPO DE: FLORIPES
DORNELLAS DE JESUS (LOLA) *27.6.1913 + 9.4.1999 RIO POMBA 9 E 10 DE ABRIL DE
1999”. Segundo estimativas do Jornal O Imparcial e da polícia local 5.000
pessoas foram ao velório na igreja matriz para dar seu último adeus à sua “santa”.
Está sepultada no jazigo da família,
no cemitério municipal, local de constante visita e veneração. O título de “santa” gerou conflitos, pois segundo um
jovem chamado Gérson Rodrigues, “pessoas
contrárias à devoção e que não admitiam sua santidade tentaram profanar o
jazigo e destruí-lo”25.
A casa foi aberta definitivamente
aos visitantes e curiosos. O quarto de Lola tornou-se local de culto e
peregrinação de fiéis e devotos. É
possível que ali sempre houvesse alguma energia sobrenatural durante todo o
tempo em que ela viveu, e essa mesma energia possa permanecer até hoje em todo
o ambiente. Acredita-se que o próprio clima e as orações favorecem isso, como
numa sinergia. O Sacrário, as imagens, as orações, os religiosos, tudo
provavelmente converge para um encontro com a presença divina.
Junto à casa principal
do sítio foi construído um enorme salão, onde na entrada principal se lê
“Recanto Sítio da Lola”. Uma espécie de capela-santuário, na qual ao 3º domingo
de cada mês fiéis de diversas partes de Minas Gerais e do Brasil dirigem-se
para assistir à missa e rezar pela tão desejada canonização.
______________________
24. Jornal O Globo. Edição de 18 de janeiro de 1998.
25.
Depoimento voluntário de Gérson Rodrigues durante uma conversa na porta da
igreja matriz de Rio Pomba.
“O
sagrado tem muitas faces. Uma delas se revela nas devoções marginais. Aquela
categoria de devoção que não é reconhecida pela Igreja Católica, mas que está por aí, permeada nas
práticas rituais dos fiéis, independentemente de ser considerada ou não pela
Igreja”26.
Há um bilhete muito divulgado onde Lola aconselha
um amigo para que “Em suas orações lembra
sempre do Divino. Sagrado Coração de Jesus eu confio em Vós”27.
Uma
prova essencial de todo o seu esforço em propagar a devoção e atestar o seu
amor incondicional pelo Coração de Jesus.
A Causa da Lola
Após a morte de Lola, parte do clero
mineiro e um grupo de 50 pessoas composto por membros da elite de Rio Pomba,
que a acompanhou ao longo da sua vida, começou a mover uma ação para a abertura
de um processo de reconhecimento da sua santidade, com a intenção de incentivar
um processo de canonização.
A campanha começou a tomar força com
correntes de orações, o reconhecimento do Bispado de Mariana, lançamentos de
alguns livros e criou-se a Associação dos Amigos da Causa de Lola (AACL) com
sede própria. Ao usar de uma Folha Informativa denominada O Beija-flor, a Associação promoveu uma divulgação em larga escala para
que pessoas pudessem dar testemunho de possíveis graças alcançadas.
Os objetivos principais da
Associação eram “poder acolher a todos
que desejarem conhecer mais a respeito da vida de Lola”, “fornecer subsídios a todos que desejarem
trabalhar para a divulgação da vida singular da Lola, de total união com Deus”
e “angariar doações e reverter em benefícios da Causa da Lola”28.
O trabalho desse grupo ganhou
energia no início da campanha pela canonização de Lola, porém com o decorrer do
processo a Associação se dissolveu. Muita gente na cidade já não se lembra disso
ou desconhece tal incentivo. No entanto, percebe-se certa precaução e as pessoas
evitam comentar.
A causa de Lola está em processo no
Vaticano desde o ano de 2005. Seus seguidores e devotos aguardam em oração e em
silêncio sua beatificação. Acreditam, segundo parecer favorável da Santa Sé,
que sua imagem seja elevada aos altares da Igreja Católica.
______________________
26. PEREIRA, José Carlos. Interfaces
do sagrado: catolicismo popular: o
imaginário religioso nas devoções
marginais.
Aparecida, SP: Editora
Santuário, 2011.
27. O
Imparcial. Edição de 18 de abril de 1999. p.5.
28. O
Beija-Flor. Folha Informativa da Associação dos Amigos da Causa da Lola –
AACL. Ano 1, n. 2. p.3.
Origem e propagação da devoção
popular ao Sagrado Coração de Jesus
“Coração
Santo, Tu reinarás, Tu nosso encanto sempre serás! Jesus amável, Jesus
piedoso, Deus amoroso, frágua de amor! (T. Mondin)
Desde a Idade Média se tem
conhecimento das experiências pessoais e místicas de homens e mulheres que
revelaram uma profunda devoção e intimidade com o Sagrado Coração de Jesus, o
que lhes rendeu elevação aos altares da Igreja Católica e o título de santos.
Houve também o incentivo de Papas
que favoreceram a propagação da fé e a relação de esperança e consolo entre os
cristãos católicos do mundo inteiro. Seus escritos e aprovações visam a fortalecer
uma devoção que não se compara no âmbito da fé.
A devoção ao Sagrado Coração de
Jesus surge entre os séculos XIII e XIV, na cidade alemã de Helfta, região da
Saxônia, com as monjas beneditinas Gertrudes “a Grande” (1256-1303), considerada como um importante testemunho
místico, e Matilde de Magdeburgo (1212-1283). Místicas, as duas viveram na
radicalidade a experiência do amor divino, favorecidas “igualmente com visões do Sagrado Coração”29.
João
Eudes (1601-1680) contribuiu para que a devoção deixasse de “ser exclusivamente privada” e se tornasse
“pública e oficial”30. Francisco de Sales (1567-1622) e Joana de
Chantal (1572-1641) fundaram a Ordem da Visitação, e “foi num convento dessa ordem religiosa que viveu a futura discípula do
Sagrado Coração, santa Margarida Maria”31.
Margarida Maria Alacoque
(1647-1690), “recebeu graças de vida
mística extraordinária desde muito cedo [...], sobretudo aquelas graças
conhecidas como As Quatro Grandes Revelações” e A Grande Promessa, “ocorridas
entre dezembro de 1673 e 1675, enquanto a santa adorava o Santíssimo
Sacramento. Não parece fortuita a circunstância de essas revelações terem
acontecido diante do Santíssimo Sacramento. Pois duas das práticas de piedade
muito ligadas à devoção ao Sagrado Coração são exatamente a adoração ao
Santíssimo Sacramento e a comunhão frequente”32.
Seguiram-se a estes exemplos de
devoção e apostolado os de Cláudio La Colombière (1641-1682), Luís Maria
Grignion de Montfort (1673-1716), Afonso de Ligório (1696-1787), João Bosco
(1815-1888), a já citada neste trabalho madre Francisca Xavier Cabrini
(1850-1917), entre outros.
______________________
29. SÁ, André. O Sagrado Coração de Jesus:
esperança, solução e consolo para cada um de nós.
São Paulo: Petrus,
2008. p.18.
30. Idem. p. 25.
31. Idem. p. 38.
32. Idem. p. 47.
Os Papas Pio IX (1846-1878), Leão
XIII (1878-1903), Pio XI (1922-1939) e Bento XVI (2005-2013) aprovaram e incentivaram
“ex cathedra” à devoção de todo o
povo cristão católico ao Sagrado Coração de Jesus, baseados na crença de que
Jesus Cristo é a “cabeça da Igreja”.
Conclusão
A vida de Floripes Dornellas de Jesus (Floripes
Maria de Jesus, Floripes Dorenellas da Costa), a Lola, chama a atenção para uma pesquisa acadêmica atenta e
cuidadosa, pois cercada de mitos e mistérios construídos por seus seguidores,
sua figura é modelada numa imagem possível de várias especulações e investigações.
Pesquisar como sua história é construída e
quais tendências abarca, é nosso objetivo. História enraizada ou não numa fé
religiosa devocional e mística tem fortalecido a construção da deidade de Lola.
Há muitos pretextos para negar as evidências. Para quem acredita
no poder da intercessão dos santos milagres não são explicados, são vividos. A
verdadeira fé não precisa de folclore e não se mede pelos números de fiéis, é
fato e transcende a compreensão humana.
Este trabalho tem como foco pesquisar e entender as ações propagadoras de
uma devoção popular movida pelo ato evangelizador de uma mulher que viveu seu
tempo como membro de uma sociedade em transformação.
Estimular
cada vez mais a procura por dados e informações que vão trazer o conhecimento
de aspectos até então desconhecidos, não só em ter a figura dessa personagem
como foco central da religiosidade e devoção popular, como o encontro dos
diferentes níveis da sociedade rio-pombense e mineira.
Em
contrapartida, manter um diálogo com a história da cidade que tem suas origens
no catolicismo, e a continuidade dessa mesma história na figura de Lola como a
força do movimento e manutenção da religiosidade e fé católica na região, ainda
que quase três séculos depois de dominação e ocupação graças ao empenho do
padre Manoel de Jesus Maria.
Acreditamos ser possível fazer uma
conexão entre a história de Rio Pomba e a vida espiritual de Lola, com o desejo
de observar as outras vertentes religiosas existentes na localidade e como se
dá o diálogo inter-religioso.
Para isso, vimos à necessidade de
estudar a história da cidade desde a sua fundação, modos de ocupação,
exploração e dominação, as influências do catolicismo, a cultura e a
religiosidade local entre os séculos XVIII e XX e, principalmente, a devoção
popular que moveu fé e diversos conflitos. O que os fatos, segundo
testemunhos, da vida de Lola trazem de novidade para a História do Cristianismo
e da Igreja Católica, principalmente a Igreja local, quais as contribuições
para as discussões no campo das Ciências Humanas, quais mudanças podem trazer
para a luz espiritual da modernidade, numa época marcada pelo ateísmo,
ceticismo, hedonismo econômico e o acelerado crescimento do protestantismo no
Brasil? São indagações que incentivam a procura de respostas no silêncio.
Diante da profunda devoção ao
Sagrado Coração de Jesus, sua frágua de amor estava sob a luz do empenho em
propagar a imagem de esperança que ela cultuava certamente e em conformidade ao
que segundo se atribui as palavras do apóstolo João na sua primeira epístola:
“Deus é Amor” (I Jo 4,8).
A Congregação para as Causas dos
Santos, no Vaticano, intitulou Floripes Dornellas de Jesus – Lola, como Serva
de Deus, com a declaração de NULA OSTA, em 30 de novembro de 2005, sob o
processo de número 2699.
Referências Bibliográficas
Periódicos:
O Beija-Flor.
Folha Informativa da Associação dos Amigos da Causa da Lola. Rio Pomba, MG.
Jornal
O Dia. Rio de Janeiro, RJ.
Jornal
O Globo. Rio de Janeiro, RJ.
Jornal
O Imparcial. Rio Pomba, MG.
Revista
O Cruzeiro. Rio de Janeiro, RJ.
Revista
Manchete. Rio de Janeiro, RJ.
AGUIAR, Giselle Neves Moreira de. Utopia
sob Incursão. Sorocaba, SP: Editora Paratodos, 2009.
ALVES,
Romilda Oliveira. A conquista e a expansão da fronteira: Zona da Mata Mineira
(1808-50).
In: Zona da Mata Mineira: fronteira, escravismo e riqueza. Rio de
Janeiro: Apicuri, 2014.
BOURDIEU, Pierre. A Economia das
Trocas Simbólicas. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
CASTRO, Natália Paganini Pontes de Faria. Religião,
Discurso e Poder: a atuação
catequética do
CHARTIER,
Roger. A história cultural entre práticas
e representações. Trad. Lisboa: Difel, 1990. CHAUVEAU, Agnès.
TÉTART, Philippe(Orgs). Questões para a história do presente. Bauru, SP:
EDUSC, 1999.
DURKHEIM, Émile. As Formas
Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Paulinas, 1989.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o
profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
FERREIRA, Roberto Nogueira. Cem
anos-luz!: O imparcial, 1896-1996; Um jornal, um jornalista,
uma cidade. Brasília.
R.N. Ferreira, 1996.
__________ O Sagrado Coração de
Lola: a Santa de Rio Pomba. Brasília: LGE Editora, 2007.
MALASPINA, Eduardo. Quando as
mulheres oram. 1 ed. Uberlândia, MG: Editora A partilha, 2013.
MARINS, Luiz Almeida. (Coord.). Antônio Francisco Lisboa “O Aleijadinho” e a religiosidade
barroca. Espaço São Bento: Sorocaba, 2009.
MELO, Amarildo
José de. Jansenismo no Brasil: traços
históricos de uma moral rigorista. Aparecida,
SP: Editora Santuário, 2014.
MENDONÇA,
Sylvio Caiaffa. Aconteceu em Rio Pomba.
Brasília: RN & MARINI EDITORA,
2010.
MUMFORD, Lewis.
A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo:
Editora Martins Fontes/Universidade
de Brasília, 1982.
OLIVEIRA. Pedro
A. Ribeiro de. Religião e Dominação de
Classe: Gênese, Estrutura e Função do
Catolicismo Romanizado no Brasil,
1985.
PEREIRA, José
Carlos. A Eficácia Simbólica do Sacrifício.
Estudo das devoções populares. São
Paulo: Arte & Ciência, 2001.
__________. Interfaces do sagrado: catolicismo popular: o imaginário religioso nas devoções
marginais. Aparecida, SP: Editora Santuário,
2011.
PIEROTTI,
Graça. Milagres e Testemunhos
Eucarísticos. São Paulo: Palavra e Prece – CEFID, 2006.
RUGENDAS, Johan
Moritz. Viagem pitoresca através do
Brasil. São Paulo: Martins, 1972.
SÁ,
André. O Sagrado Coração de Jesus: Esperança, solução e consolo para cada um de
nós. 1 ed.
São Paulo: Petrus Editora, 2008.
SANTIAGO,
Sinval Batista. História do município de
Rio Pomba. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1991.
SILVA, Armando.
Imaginários Urbanos. São Paulo:
Perspectiva, 2001.
SILVEIRA, Stefany. Trajetória Social e
Origem da Vocação Religiosa da Santa Lola . Faculdade
Governador
Ozanam Coelho – FAGOC
– Comunicação Social – Habilitação
Jornalismo
Novembro/2013.
SOUSA, Jorge Prata de. ANDRADE, Romulo Garcia de. (Orgs.) . Zona
da Mata Mineira: Escravos,
família
e liberdade. Rio de Janeiro: Apicuri, 2014.
TÓTH, Veremundo. Um Grande Sinal
dos Tempos: O Sagrado Coração de Jesus.
São Paulo: Editora
Ave
Maria, 2005.
VELHO, Gilberto. A utopia urbana. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editora, 1978.
Comentários
Postar um comentário